Todos os anos nos surgem alguns clientes com daguerreótipos para tratamento de conservação. A maioria destes daguerreótipos provém de coleções de família, são retratos de antepassados datando do período 1840 a 1860. Em abril de 2015 foram-nos entregue para tratamento quatro daguerreótipos de uma família. São quatro retratos individuais, pai, mãe e duas filhas, emoldurados, de origem portuguesa, revelando grande perfeição de execução, mas em estado de conservação preocupante.
Um daguerreótipo é constituído por uma chapa de cobre fina, revestida a prata e com imagem fotográfica, constituída por gotas minúsculas de mercúrio (partes branca da imagem) a que se junta algum ouro. É o único material fotográfico constituído apenas por metais: cobre, prata, mercúrio e ouro. Se estiver protegido por um vidro e bem selado, é muito estável e poderá manter-se por mais do que um século em perfeito estado de conservação. Muitos Daguerreótipos mantém-se em bom estado de conservação, quando estão bem isolados de agentes poluentes e da humidade exterior. Infelizmente neste caso as fitas de selagem não existiam e os cartões originais usados para passe-partout, em materiais ácidos e em estado de decomposição, conduziram a formação de sulfuração (manchas castanhas de sulfureto de prata) e formação de erupções de malaquite (carbonato de cobre) sobre a imagem.
Foram realizados na LUPA dois tratamentos para a limpeza.
Tratamento um, as erupções de malaquite foram removida quase na totalidade, de forma mecânica, utilizando um estilete de aço. O trabalho realizado durante vários dias, de grande delicadeza, foi executado ao microscópio com ampliação de 10 a 15 X. O verso da chapa, em cobre descoberto encontrava-se muito atacado, foi limpo por meios apenas mecânicos, sem recorrer a agentes químicos.
Tratamento dois, remoção em banho eletrolítico das manchas de sulfuração (sulfureto de prata de cor castanha) que obstruíam parcialmente a imagem sobretudo na periferia do cartão da janela. O processo de limpeza eletrolítico consiste na imersão da chapa numa solução de hidróxido de amónio e a passagem pelo banho de uma corrente elétrica, de 2 a 5 volts, aplicada com estilete de prata sem contacto físico com a chapa. Para o efeito foram construídos os suportes e os eletrodos, em prata, para a execução perfeita do tratamento. Este tratamento conduz á formação de cargas elétricas na superfície da chapa de cobre, com consequente libertação da película de sulfureto de prata, não afetando a imagem de mercúrio. No nosso caso o tratamento foi muito eficaz, conduzindo a uma melhoria significativa da aparência da imagem. Algumas chapas mais deterioradas responderam muto bem ao tratamento, conseguindo-se uma remoção de grande parte das manchas. Contudo, nem todas as chapas respondessem da mesma forma. Este tratamento é descrito por Susan Barger na publicação The Daguerreotype: Nineteenth-century Technology and Modern Science.
As molduras em madeira e gesso foram ainda limpas e coladas, reforçadas no verso com chapa e aço inoxidável, restituindo o aspeto original. As chapas e molduras foram acondicionadas em caixa de cartão individual e espuma de polipropileno. Recomenda-se manter em ambiente seco, com exposição à luz condicionada.